Situada em elevação pedregosa, esta antiga vila alcança uma certa notoriedade e uma elevada importância entre os finais do século XIII e meados do século XVIII.
Teve o seu primeiro foral outorgado em 1167 o que atesta a antiguidade desta freguesia, que como povoação deve existir desde os tempos visigóticos. Sabe-se que o actual território ocupa o mesmo local da “Villa” Abizoude, o que é comprovado pelas escrituras godas que se vêem nas vergas das portas exteriores, existentes na Igreja de Nossa Senhora das Neves.
Abiud era o nome da povoação ao tempo do foral de 1167 e também assim aparece num documento de 1206. D. Examena, que juntamente com o seu marido Diogo Peariz, concedeu a Abiul aquele privilégio, mudara-lhe o nome em homenagem ao patriarca bíblico da Casa de David.
Poucos anos depois, o casal faleceu sem deixar descendentes, revertendo a vila para a coroa. Em 1175, D. Afonso Henriques resolveu, através de carta testamentária, doá-la ao Mosteiro de Lorvão, na pessoa do abade D. João.
Em meados do século XIII, uma parte do senhorio da vila foi alienado aos ascendentes de André Sousa Coutinho e, após o falecimento deste, passaria toda a vila para as mãos da Casa de Aveiro.
É a partir daqui que se regista o gradual crescendo de importância que irá durar quase cinco séculos. Através do empenho dos duques de Aveiro a vila cresce rapidamente o que leva D. Manuel I a conceder-lhe foral novo a 14 de Julho de 1515.
É então dotada, já mais tarde, com câmara, cadeia, tabelião, juiz de cabeça de julgado, pois a vila era também uma circunscrição territorial, e ainda capitão-mor com duas ordenanças. Os duques fazem também construir um hospital, igrejas, capelas e instituem a Misericórdia.
É nesta freguesia e na era seiscentista que aparece a praça de touros mais antiga do País. Era dotada de um redondel murado a pedra firme, estando os curros e os alçados das bancadas seguros por grossos troncos de pinheiro. Manteve-se no seu lugar até 1951 ano em foi substituída por uma outra, nova e moderna adaptada às exigências da lida tauromáquica.
Em 1766 registou-se um curioso episódio, quando o bispo de Coimbra, D. Frei Miguel da Anunciação, excomungou as touradas de Abiul no dia de Nossa Senhora das Neves. Foi grande o diferendo e só viria a ser sanado por despacho de D. José I, em 27 de Agosto de 1769: “...para não faltar ao costume e devido culto, que nesta posse se conservam desde tempos que excede a memória dos homens, presidindo a Câmara a todos os actos desta festividade, porém que neste presente ano sucederá que julgando Vós não ser decente outro festejo que não fosse o da Igreja, pretendestes estabelecer que não houvesse touros, nem os costumados divertimentos que vêm em consequência deles... sou servido declarar-vos, que tão dissonante é impedirdes a festa que costuma fazer naquela igreja a Câmara e o povo de Abiul, com excesso e abuso da vossa jurisdição e ministério é proibir directa ou indirectamente os touros e que a uma ou outra coisa vos deveis abster...” e a partir daí continuariam os touros a ser lidados nos dias de festa da padroeira.
Estava-se na época em que tinha começado o período de crescimento da importância de Abiul. Em 1758, na noite de 3 para 4 de Setembro, D. José é vítima de um atentado. Entre os implicados no crime encontrava-se D. José de Mascarenhas, duque de Aveiro e também mordomo-mor da casa real. É condenado à morte, a 12 de Janeiro de 1759 e todos os bens da Casa de Aveiro são confiscados, entre eles os de Abiul que são vendidos em hasta pública. A partir daí, a vila não mais se recompôs, e com as Inva-sões Francesas e a pestilenta cólera-morbus, sofria a machadada final. Em 1821 é extinto o julgado e concelho de Abiul e em 1870 a Misericórdia é anexada à de Pombal.
Para a posteridade e relembrando aqueles faustosos tempos, ficaram os restos do Paço dos Duques, vestígios de vários solares da nobreza que aqui residia e a casa de Abiúl, o solar, entretanto recuperado, que foi de André Sousa Coutinho. Registe-se o belo arco manuelino de um portal e o nicho seiscentista de pedra lavrada, que foi da capela dele.
O Inventário Artístico de Portugal fala-nos de tudo isso, acrescentando ainda, um pórtico que pertenceu ao edifício da Misericórdia, e a descrição da igreja paroquial: “Templo com a frontaria sobre um escadório, portal de cantaria almofadada, coroado de uma cruz e com pirâmides ornamentais, um óculo, uma janela lateral e torre com sineiras duplas. Tem uma nave grande, coberta de um tecto de madeira de três planos, capela-mor, dois altares colaterais e dois laterais...”. É ainda dado realce ao retábulo de talha setecentista, da capela-mor e à escultura de pedra representando o orago.
Como nota etnográfica refira-se o forno que ainda hoje se conserva, e no qual se registava uma cerimónia que atraía muitos forasteiros: nele entrava um homem de cravo na boca chapéu armado, dando três voltas dentro do forno aceso desde a véspera e trazia para fora o bolo já cozido.
TOPÓNIMO
Os vestígios mais antigos de ocupação do território, datam dos tempos visigóticos, os quais ainda são bem visíveis nas vergas das portas exteriores laterais da sua Igreja Matriz, teria então nessa altura o nome de "Villa" Abizoude.
O nome actual Abiul, parece ser corrupção de Abiud, nome hebraico com o qual foi baptizada aquando da atribuição da sua primeira carta foral no ano de 1167, outorgada por El-Rei D. Afonso Henriques - (D. Afonso I), ao seu aio Diogo Peariz e à sua esposa D. Examena. O nome Abiud aparece ainda num documento que data do ano 1206, tendo sido o mesmo dado em homenagem ao patriarca bíblico, da Casa de David.
PRAÇA DE TOUROS
É na era seiscentista que aparece a praça de touros, considerada hoje a mais antiga do País. Era dotada de um redondel murado com pedra firme, estando os curros e os alçados das bancadas seguros por grossos troncos de pinheiro. Aquando da realização da tourada, as ruas circundantes eram vedadas por carros de bois e toros de pinho.
As lides foram realizadas nesta praça até ao ano de 1898, ano em foi substituída por uma outra praça, construída com os fundos de uma cotização dos seus habitantes. A nova praça era moderna e adaptada às exigências da lide tauromáquica e foi construída noutro local da vila, encontra-se no mesmo local, actualmente.
LENDA DE NOSSA SENHORA DAS NEVES
Teve origem nos anos de 1561-62 em que a população foi contaminada pela peste. Sem esperança, povo e fidalgos foram em procissão à igreja implorar a Nossa Senhora o fim da epidemia. Ao pedido juntaram a obrigação de festejar no primeiro domingo de Agosto de cada ano, com missa solene, sermão e corrida de toiros. A peste cessou e o povo agradecido tem realizado solenemente as Festas. Por altura das Festas, Nossa Senhora das Neves, padroeira da paróquia, fazia todos os anos um milagre. Num enorme forno onde se queimavam 6 a 7 carradas de lenha, era metido um bolo de trigo de 110 a 120 Kg. Em seguida um homem entrava no forno, depois de confessado e comungado, dava a volta ao bolo e saía, sem lesões. Tudo se passava em frente da imagem da Virgem, colocada em frente ao forno. A tradição foi mantida até 1913.